sábado, 27 de fevereiro de 2016

Livro: Terra e cinzas

Título: Terra e cinzas: um conto afegão
Título original: Khâkestar-o-khâk (dari) e Terre et cendres (francês)
Autor: Atiq Rahimi
Tradutora: Flávia Nascimento
Editora: Estação Liberdade

Nunca tinha ouvido falar desse livro ou do autor, mas o descobri fuçando a estante da biblioteca na parte dos autores do Oriente Médio, em busca de países ainda não lidos para o Desafio Volta ao Mundo em 80 Livros, e a edição pequenina e simpática me chamou a atenção.

Esta foi a primeira obra de ficção do escritor e cineasta Atiq Rahimi. Escrito originalmente em dari, variação do persa usada no norte do Afeganistão, o livro narra a história de um velho que teve seu vilarejo completamente destruído em um bombardeio. Ele perdeu todos os seus parentes, com exceção do neto, que ficou surdo, e do filho, que trabalhava na mina e ainda não sabe do ocorrido. O velho então parte em direção à mina para contar ao filho o que aconteceu. Durante a espera por uma carona, acompanhando do neto na aridez do deserto, ele relembra o acontecimento e reflete sobre como dar uma notícia tão devastadora.

Uma das coisas que se destaca no livro é a narração na 2ª pessoa do singular. Já vi alguns poucos livros que utilizam esse recurso, provavelmente para criar uma identificação maior entre o leitor e o narrador, mas sempre acabo estranhando no início. Talvez o estranhamento também seja parte da intenção do autor.

O livro é bonito, sensível e doloroso, mas não me conquistou completamente. Não há nada que tenha me incomodado em específico e consigo ver as muitas qualidades da obra, acho que foi apenas falta de envolvimento da minha parte mesmo.

Livro lido para o Desafio Skoob (autores asiáticos) e o Desafio Volta ao Mundo em 80 Livros (Afeganistão).

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Filme: Fehérlófia

Título original: Fehérlófia
Título em inglês: Son of the White Mare (Filho da égua branca)
Diretor: Marcell Jankovics
Ano: 1981

Descobri esse filme por acaso, quando estava buscando ideias de temas para um seminário sobre algo da cultura húngara (acabei falando sobre raças de cachorro). Como fã de animações com um visual diferente, fiquei interessada nas cores vivas e no jeitão psicodélico da produção, mas só agora, quase um ano depois, assisti ao filme.

Baseado em lendas dos povos que deram origem ao que hoje é a Hungria, a animação conta a história de um jovem nascido de uma égua. Após ouvir a mãe contar a história sobre o antigo reino onde ela vivia, que foi dominado por três dragões malignos, o jovem decide partir em uma jornada até o submundo para destruir os tais dragões. No caminho, ele encontra seus dois irmãos, também dotados de grande força, que se juntam a ele na jornada.

A história em si é bem tradicional, com o herói que retorna ao reino do qual fora expulso para libertá-lo do jugo de criaturas mágicas e poderosas. São três irmãos, três dragões e três princesas libertadas ao final. E viveram felizes para sempre (ou será que não?). Nenhuma grande novidade aqui.

Por outro lado, visualmente o filme é incrível, diferente de tudo o que eu já vi, com cores fortes e contrastantes e estampas cheias de detalhes, que remetem aos bordados tradicionais húngaros. Mais do que apenas a estética, no entanto, o que mais me fascinou no filme foi a maneira simbólica de representar as ações. As cenas iniciais, por exemplo, que mostram a égua fugindo do submundo e o nascimento do protagonista são pura viagem visual. A parte em que a égua conta sua história ao menino também é fascinante, cheia de formas geométricas e brincadeiras com as cores. Verdade que a história nem sempre fica muito clara em meio a todos os delírios psicodélicos, mas isso é o que menos importa aqui.






Para quem ficou curioso, vale a pena dar uma olhada nesse trailer:

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Livro: Irmãos

Título: Irmãos
Título original: 兄弟 (Xiōng Dì)
Autor: Yu Hua
Tradutor: Donaldson M. Garschagen
Editora: Companhia das Letras

Quase sempre que leio um livro que abrange a maior parte da vida de um personagem, acabo gostando mais do início e desanimando à medida que a vida adulta vai se desenvolvendo. Este foi o caso de Irmãos, que acompanha a trajetória de dois irmãos em uma pequena cidade chinesa. Apesar de não ligados pelo sangue, Li Carequinha e Song Gang se tornam irmãos quando a mãe do primeiro se casa com o pai do segundo. Li Carequinha é malandro e esperto, enquanto Song Gang é tranquilo e gentil. Apesar das diferenças, eles logo se tornam inseparáveis e enfrentam juntos as dificuldades que surgem em seu caminho. 

No plano de fundo, o livro traça um panorama da história da China nos últimos quarenta anos. Da Revolução Cultural de Mao, que afeta profundamente a família dos dois garotos, à chegada do capitalismo, que provoca uma grande transformação na cidade onde vivem e propicia a Li Carequinha o ambiente perfeito para ele "vencer na vida".

O romance tem um tom leve, bastante "anedótico", com muitas situações cômicas. Os personagens são carismáticos, mas não espere um bom desenvolvimento da maioria deles. Com a exceção do núcleo principal, o resto é bem plano, alguns até caricatos, o que não é um problema porque eles funcionam bem dentro da narrativa.

O humor do livro é um de seus pontos fortes, mas também um de seus pontos fracos. É um humor simples, com algumas piadas bem bobas até, mas ele me rendeu muitas risadas (ok, não cheguei a rir alto, mas ri por dentro, serve?) devido às situações absurdas e aos personagens sem noção. No entanto, com o passar do tempo, certos exageros e repetições presentes ali só para fazerem rir se tornam cansativos, e o humor foi ficando cada vez mais forçado e até meio ofensivo.

Aí é que reside a minha frustração com o livro. A primeira metade da história realmente me conquistou. Eu virava as páginas e mal via o tempo passar, rindo e me emocionando até quase chorar (o tom cômico predomina no livro, mas ele também oferece uma boa dose de tragédia). No entanto, quando os dois irmãos começam a seguir caminhos diferentes a coisa desanda e vai ficando cada vez mais absurda. Não consigo ver o motivo para a presença de certos acontecimentos na trama (Concurso da Beleza Virginal? Sério?) e o absurdo dos eventos deixou de me fazer rir para me fazer erguer as sobrancelhas de incredulidade. Sei que muito do livro é crítica social e que o exagero esteve presente na narrativa desde o começo, mas não consigo deixar de me lamentar pela perda de rumo do livro que eu estava amando tanto.

Ainda assim, não posso dizer que não gostei de Irmãos. Sim, o humor escrachado nem sempre funciona. Sim, ele tem muitos problemas e pode ser bem ofensivo para o leitor mais sensível/politicamente correto. Sim, eu queria bater no Li Carequinha durante boa parte da metade final. Mas mesmo durante os momentos que comentei, continuei interessada na história e nos personagens. E a metade inicial maravilhosa compensa boa parte dos problemas. 

Livro lido para o Desafio Skoob (autor asiático) e para o Desafio Livrada! (romance de formação).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Comentando os indicados ao Oscar de melhor longa de animação


Não sou a maior fã dos "filmes de Oscar" e, apesar de me interessar em saber quem são os indicados e os premiados e, recentemente, assistir à premiação, raramente me interesso em ver mais do que um ou dois dos principais indicados.

A exceção é a categoria de longa de animação, que nos últimos anos sempre tem indicado filmes bastante distintos entre si, com espaço para obras menos comerciais em meio aos blockbusters da Pixar e da Disney. Fico especialmente feliz em ver essa tendência porque o Oscar acaba expondo filmes pouco conhecidos e que provavelmente nem chegariam ao meu conhecimento se não fosse a indicação, como Ernest e Célestine, Uma viagem ao mundo das fábulas e Um gato em Paris.

Os indicados deste ano foram especialmente variados em técnica (dois desenhados principalmente à mão, dois em stop-motion e apenas um em computação gráfica), origem (dois americanos, um inglês, um japonês e um brasileiro) e público alvo. E, claro, essa edição do Oscar é marcante para nós porque é a primeira vez que um filme brasileiro concorre ao prêmio de animação. Sabemos muito bem que as chances de ele ganhar são quase zero (mas não são zero!) e que Divertida mente provavelmente leva o troféu, mas tudo bem, só de ter sido indicado e, assim, ser divulgado para o mundo, já é ótimo.

Aproveitei este mês para conferir as animações que ainda não tinha visto para poder reclamar com o mínimo de fundamento quando Divertida mente ganhar e agora vou comentar sobre elas.


O menino e o mundo (Alê Abreu, 2013)
Meu favorito! E não é só porque é brasileiro. Essa é uma das animações visualmente mais bonitas que eu já vi. Os traços infantis e coloridos conseguem expressar muito bem a visão de mundo de uma criança, com um início mais abstrato e vazio que vai tomando outras formas à medida que ela expande seus horizontes. A história tem uma boa dose de crítica social, no início sutil, mas que vai se intensificando perto do fim e que, apesar de meio óbvia, ainda deixa bastante margem para reflexão. E o que dizer da trilha sonora? As músicas são extremamente contagiantes e a música-tema, "Airgela", é deliciosa. Resenhei o filme quando o vi pela primeira vez aqui.


As memórias de Marnie (Hiromasa Yonebayashi, 2014)
É o suposto último filme do Studio Ghibli, pelo menos enquanto durar o hiato/reorganização do estúdio. A protagonista, Anna, tem problemas em se relacionar com os outros, mas ao passar um tempo em uma cidadezinha com os tios, ela conhece Marnie, uma garota misteriosa, e as duas se tornam amigas. O filme tem ambientação maravilhosa, a arte bonita de sempre e uma vibe bem Ghibli, que te passa uma sensação agradável e melancólica, mas, para mim, ele não se compara às melhores obras do estúdio. Não sei se foi porque eu interpretei o filme em uma chave errada no início (preciso rever para comprovar) ou se foi porque achei a Marnie bem chatinha, mas achei que o filme forçou a barra na tentativa de passar emoção. 


Shaun, o carneiro - o filme (Mark Burton e Richard Starzak, 2015)
Gosto muito do trabalho da Aardman, apesar de não ter assistido aos últimos filmes deles (péssima fã, eu sei). Shaun, o carneiro originalmente é uma série de TV, mas nunca assisti e nem sabia nada a respeito, então fui ver o filme sem conhecer os personagens. A história não apresenta muitas novidades: Shaun e seus amigos vão parar na cidade grande, onde vivem altas aventuras tentando resgatar seu fazendeiro. O filme é divertido, com personagens carismáticos e situações engraçadas. A animação é ótima, bem no estilo habitual da Aardman. Achei o filme uma graça, mas não é o meu preferido do estúdio.


Anomalisa (Charlie Kaufman e Duke Johnson, 2015)
Mais um filme em stop-motion, dessa vez com um visual muito mais realista. O realismo não se limita apenas ao estilo de animação, pois os personagens também são realistas e incrivelmente humanos, em toda sua insegurança e insatisfação. É uma animação bem diferente das que costumo assistir, e admito que me senti entediada em alguns momentos, porque o filme é bem vida-real-enfadonha-e-depressiva, mas ao mesmo tempo ele oferece bastante material para reflexão (e fiquei muito tempo encafifada com umas teorias que li sobre o filme :P).


Divertida mente (Pete Docter, 2015)
Só vi esse filme na semana passada e, depois de meses ouvindo gente dizendo que é o melhor da Pixar e um dos melhores do ano, eu esperava mais. Bem mais. A premissa é interessantíssima e muito criativa, mas o resto, não sei, não. Achei toda a parte em que a Alegria e a Tristeza vagam pela mente tentando voltar para o centro de controle (que é a maior parte do filme) meio chata, algo que eu não esperava sentir em um filme da Pixar, e não consegui me importar a mínima com a história da Riley. Acho que os criadores se concentraram demais em expor todo o universo mental que eles criaram, deixando o ritmo do filme meio truncado, e os personagens não tiveram tanto tempo para um desenvolvimento natural. Ou eu é que sou chata e do contra mesmo.

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Apesar de as indicações serem variadas e terem sido bastante surpreendentes, considerando que filmes maiores ficaram de fora, o prêmio em si sempre acaba indo para uma grande produção. Nos anos anteriores houve muita gente reclamando da pouca seriedade com que os membros da Academia votam nas categorias "menores" e acho que isso não vai mudar tão cedo a não ser que mudem radicalmente a forma de votação. Assim, é difícil que Divertida mente não ganhe o troféu. Anomalisa talvez seja o concorrente mais forte do filme da Pixar, porque envolve um roteirista famoso no mundo de Hollywood. Independentemente do resultado, todos os cinco indicados têm muitos méritos e mostram as diversas possibilidades e a versatilidade da animação.

E você? Viu todos os filmes? Está torcendo para qual?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Livro: Arrecife

Título: Arrecife
Título original: Arrecife
Autor: Juan Villoro
Tradutora: Josely Vianna Baptista
Editora: Companhia das Letras

Depois de ler o infantojuvenil O livro selvagem, um romance adorável sobre o poder da literatura, fiquei bastante curiosa para conhecer mais da obra do Juan Villoro. Aproveitando que o país de fevereiro do Desafio Volta ao Mundo é o México, escolhi mais um livro do autor.

O protagonista de Arrecife é Tony Góngora, ex-baixista de uma banda de rock, que trabalha em um resort de luxo no Caribe sonorizando o movimento dos peixes no aquário. Seu melhor amigo, Mario Müller, foi o responsável por transformar o hotel em um empreendimento de sucesso, oferecendo aos turistas endinheirados uma experiência diferente em suas rotinas modorrentas e seguras: o perigo. Em um ambiente controlado, os hóspedes passam por situações de risco pouco usuais para eles, mas típicas da região controlada pelo narcotráfico, como sequestros-relâmpago e encontros com guerrilheiros, tudo devidamente encenado por atores. No entanto, a fronteira entre encenação e realidade se esgarça quando um dos mergulhadores do hotel é encontrado morto.

Apesar de um início que aponta para o romance policial, a investigação do crime não é o foco do livro. O mais importante aqui é a amizade entre Tony e Mario, ex-companheiros de banda, que viveram altas loucuras nos anos 60 e 70. Devido ao excesso de drogas, Tony perdeu parcialmente a memória, e Mario o ajuda a preencher as lacunas em suas lembranças, relembrando acontecimentos da infância e dos anos de estrada.

Esse é o típico livro que me envolveu bastante durante a leitura, mas se tornou esquecível depois que terminei. Estou escrevendo esta resenha algumas semanas após a leitura e já não lembro direito da história (me sinto como Tony e suas lembranças incompletas). Ele apresenta ideias interessantes, como a do hotel que explora a fascinação que temos pelo perigo, e personagens também interessantes, além de uma boa dose de críticas à sociedade mexicana contemporânea (e aos gringos também), mas o desfecho deixa a desejar e, em retrospecto, a imagem que ele deixou em mim é a de um livro meio insípido.

Livro lido para o Desafio Volta ao Mundo 2016 (México)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mangás: Vitamin e Limit

Seguindo minha resolução de ler mais mangás, comecei a acompanhar as notícias sobre os lançamentos aqui no Brasil. Em meio a um monte de títulos que não me interessam nem um pouco, encontrei esses dois mangás da Keiko Suenobu que despertaram minha atenção.


Vitamin

Ano de publicação no Japão: 2001
Volumes: 1
Editora: JBC

Sinopse: Esse primeiro mangá publicado pela Keiko Suenobu nos apresenta Sawako Yarimizu, uma colegial que leva uma vida normal. No entanto, sua vida muda completamente quando ela é vista transando com o namorado em uma sala vazia na escola. Todos, inclusive suas amigas, passam a vê-la como uma vagabunda, e ela passa a sofrer as mais diversas humilhações. Incapaz de lidar com os colegas e de se abrir com os professores e os pais, ela acaba se isolando e só encontra forças para se reerguer quando revive seu antigo sonho de se tornar desenhista de mangá.


Comentários: O mangá trata o bullying de maneira bastante crua e direta, de um modo que é impossível ficar indiferente à leitura. É bem pesado, cheio de sofrimento e me pareceu um tanto exagerado, mas o final é esperançoso e libertador. Como a história é contada em apenas um volume, algumas coisas se desenvolvem rápido demais, sem muito aprofundamento, mas isso não chega a incomodar. Além do bullying e do slut-shaming, o mangá também aborda temas como a pressão escolar e familiar para se ter um futuro bem-sucedido e questiona a educação tradicional como único caminho possível.


Limit

Ano de publicação no Japão: 2009-2011
Volumes: 6
Editora: JBC

Sinopse: Mizuki Konno vive de acordo com a corrente: amiga das populares da classe, ela faz o que é preciso para manter essa posição, mesmo que isso inclua crueldades contra as pessoas fora de seu pequeno círculo privilegiado. No entanto, durante uma excursão escolar, o ônibus em que a classe estava despenca de um barranco e quase todos morrem. As poucas que restaram precisam encontrar uma forma de sobreviver no meio do mato enquanto o resgate não chega, porém, longe do ambiente escolar, com fome e medo, o ressentimento vem à tona e elas revelam suas verdadeiras faces.


Comentários: Não sabia muito o que esperar desse mangá, que acabou me agradando em alguns aspectos e decepcionando em outros. Gostei da protagonista, que tinha uma atitude omissa na escola e precisa rever seus conceitos após o acidente. O grupo de personagens, que apresenta personalidades bastante variadas, também me agradou. Gosto de ver pessoas que não têm nada a ver umas com as outras fora de seu ambiente natural, sendo forçadas a interagir. O ritmo varia bastante, e o mangá não conseguiu prender minha atenção tão bem, mas ao fim de cada volume sempre havia um acontecimento marcante que me deixava ansiosa pela continuação.

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Esses dois mangás me deixaram interessada em conhecer mais da obra da Keiko Suenobu, que, até onde sei, sempre aborda o bullying de alguma forma. Apesar de alguns exageros, gostei da maneira crua e intensa de seus mangás e das situações extremas em que ela coloca suas personagens. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Livro: Declínio de um homem

Título: Declínio de um homem
Título original: Ningen Shikkaku
Autor: Osamu Dazai
Tradutor: Ricardo Machado
Editora: Estação Liberdade

Esse é o primeiro livro que leio do Osamu Dazai, um dos mais importantes autores japoneses do século XX. A obra é um best-seller no Japão, perdendo apenas para Kokoro do Natsume Soseki como o romance japonês mais vendido.

Com  muitas passagens autobiográficas, o livro é protagonizado por Yozo Oba, um jovem que sempre se sentiu alienado do resto da sociedade. Desde criança, tinha dificuldades de interagir com os outros e vergonha de revelar sua verdadeira face. Na tentativa de ser aceito, ele se se escondia atrás de palhaçadas, o que lhe rendia certa popularidade, mas também o deixava temeroso de que enxergassem por trás de suas traquinagens.

A partir da adolescência, sua depressão só se agrava. O personagem se envolve com diversas mulheres, muitas vezes sendo sustentado por elas, mas isso não lhe traz nenhuma felicidade, e ele se entrega ao álcool (e à morfina, e a outras mulheres, e a tentativas de suicídio), sentindo cada vez mais dificuldade em se adaptar à sociedade e viver o que se considera uma vida normal.

O romance é bastante visceral em seu retrato do protagonista angustiado e ganha um peso adicional ao se pensar que muito dele é autobiográfico. É um livro que pode ser bastante incômodo, principalmente se você se identificar bastante com algumas facetas da personalidade de Yozo (ou se não se identificar nem um pouco. Neste caso, é possível que você se irrite seriamente com algumas das atitudes dele).

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Se vocês se interessarem, o tradutor dessa edição escreveu este post comentando sobre o processo de tradução.

E tem um anime que adapta o romance (além de outros clássicos da literatura japonesa, como Kokoro e contos do Akutagawa): Aoi Bungaku. Alguém já viu?

Livro lido para o Desafio Literário Skoob (autores asiáticos). 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Randomicidades do mês: janeiro/2016 (filmes)

Última parte das randomicidades!

No final do ano passado finalmente assinei Netflix, por isso (e por estar desocupada) acabei assistindo a um monte de filmes em janeiro.

Longas


Frank (Lenny Abrahamson, 2014)
Filme sobre um tecladista que entra em uma banda alternativa liderada pelo estranhíssimo Frank, um homem que usa uma cabeça falsa. Fazia tempo que eu queria ver esse filme e acho que as altas expectativas prejudicaram um pouco minha apreciação dele (ou será que foi porque acabou a luz no meio do filme? Pode ser isso também). Os personagens são bem esquisitões, assim como as músicas que eles tocam (a última música é ótima!). Não sei exatamente o que me desagradou no filme, assim como também não sei dizer o que me agradou, por isso mesmo eu recomendo. ;P
Nota: 3,5


Rubber (Quentin Dupieux, 2010)
Esse filme!!! Fiquei sabendo da existência dele por uma lista de filmes trash no Filmow, e o pôster estiloso me chamou atenção. Aí vi o trailer e fiquei doida para assistir ao filme. Não vou contar muito da história para não estragar a surpresa de quem for assistir (assistam!), mas o básico é: um pneu ganha vida e descobre ter poderes telecinéticos, que ele usa para explodir coisas (garrafas, animais e muitas cabeças de pessoas). Sim, a premissa é deliciosamente trash, mas o filme em si, até que não tanto. Ele é bem feito, com fotografia bonita, cenários desérticos fascinantes, trilha sonora agradável e ótimas atuações do pneu. Incrível como um objeto tão simples pode ser tão expressivo; dá para sentir a alegria dele ao rodar por aí, a hesitação ao encarar o desconhecido e a fúria quando ele é contrariado. Além disso, o filme também oferece algumas reflexões metalinguísticas, o que é sempre bem-vindo. Depois dele, fiquei muito curiosa para conhecer as outras obras do diretor, que parecem ser tão estranhas quanto Rubber.
Nota: 4


Confissões (Tetsuya Nakashima, 2010)
Li a respeito dele no Resumo da ópera faz um tempão e só agora assisti. É um filme sobre a vingança de uma professora contra os alunos que assassinaram sua filha. A história vai se revelando aos poucos através das confissões das pessoas envolvidas direta ou indiretamente no crime. O filme tem um estilo próprio e, apesar de alguns exageros aqui e ali, é maravilhoso, perturbador e surpreendente.
Nota: 4

Something wicked this way comes!

Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban (Alfonso Cuáron, 2004)
Revi esse filme porque me bateu uma nostalgia forte de Harry Potter. Não sou tão fã dos filmes, mas considero esse o meu favorito da série. Sei que alguns fãs da saga torcem o nariz para ele porque é um dos menos fiéis ao livro, porém acho que eu gosto dele exatamente por isso. Eu sentia que até então os filmes eram reproduções pioradas dos livros, mas que o terceiro finalmente era um filme com vida própria. Revendo agora, não achei tão bom quanto lembrava. A história me parece meio confusa. A trilha sonora, no entanto, é uma das minhas preferidas.
Nota: 3,5


Califórnia (Marina Person, 2015)
Eu sempre acabo assistindo aos filmes nacionais sobre adolescentes, sei lá por quê. Esse é o primeiro longa de ficção dirigido pela Marina Person e mostra a adolescência de uma menina nos anos 80. Seu sonho é visitar o tio na Califórnia, mas tudo se esvai quando o tio volta doente para o Brasil. Pela sinopse eu imaginei que a doença do tio teria maior peso, mas senti que o tema ficou meio apagado. O filme é simpático e a trilha sonora recheada de hits dos anos 80 é muito boa, até eu que não gosto muito de música dessa época gostei de algumas canções.
Nota: 3,5


Garotas (Céline Sciamma, 2014)
Da mesma diretora de Tomboy, mostra a vida de uma adolescente que leva uma vida sem muitas perspectivas e descobre um caminho diferente ao conhecer novas amigas. É raro ver filmes protagonizados por mulheres negras, então fica a dica. A cena em que toca Diamonds e as garotas cantam e dançam é tão bonita e libertadora; sempre vou lembrar do filme quando ouvir a música. ;)
Nota: 3,75


Goshu, o violoncelista (Isao Takahata, 1982)
Resenhei aqui para o Projeto Ghibli.


O primeiro que disse (Ferzan Ozpetek, 2010)
Não sei por que, mas sempre fico com vontade de ver filmes com temática LGBT. Esse foi um desses. É uma comédia/drama sobre um jovem que pretende revelar que é gay para a família. É um filme gostoso de assistir, com cenas engraçadas, ótimos personagens e bons momentos emocionantes. Não esperava muito dele, mas gostei.
Nota: 3,5


Estúdio Ghibli, reino de sonhos e loucura (Mami Sunada, 2010)
Fazia um tempão que eu queria assistir a esse documentário, porque, né, é sobre o Ghibli. Ele mostra detalhes do estúdio, os funcionários, os processos de criação, produção, divulgação, e é tudo fascinante, mas os momentos mais marcantes são aqueles em que o Miyazaki fala sobre seu trabalho e sua visão de mundo. É curioso ver o quanto ele é pessimista, considerando que seus filmes não são tão desesperançosos assim. Fica aqui minha queixa de que, apesar de o filme documentar o trabalho do estúdio na época da criação de Vidas ao vento e O conto da princesa Kaguya, quase nada é revelado sobre o segundo. O documentário é basicamente sobre o Miyazaki, e o Takahata só aparece em pessoa lá para o final. Queria ver mais Kaguya. :(
Nota: 3,75

Curtas


Little Witch Academia (You Yoshinari, 2013)
Anime de trinta minutos sobre uma escola de magia estilo Harry Potter. Animação super fluida, arte bonitona, tudo delicioso de se ver. Vou escrever um post sobre ele quando assistir à continuação.
Nota: 4


World of Tomorrow (Don Hertzfeldt, 2015)
É um dos filmes indicados ao Oscar de curta de animação deste ano e estava disponível na Netflix americana, então eu tinha que ver, né? Pena que não gostei muito. Ele traz ideias interessantes, mas não é muito dinâmico, pois é basicamente formado por diálogos. Achei meio chatinho.
Nota: 3

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Randomicidades do mês: janeiro/2016 (séries e animes)

Segunda parte das randomicidades do mês!

Séries que estou acompanhando

Não sou muito de assistir séries, mas resolvi voltar a ver Six Feet Under depois de um tempinho longe da série e comecei Mad Men porque minha mãe queria assistir.


Six Feet Under 
Terminei a 2ª temporada. Essa é uma série que vai conquistando aos poucos, a medida em que você vai se apegando aos personagens. Por isso, gostei bem mais da segunda temporada do que da primeira, apesar de ver mais problemas nela (dramas exagerados, umas passagens temporais abruptas, falta do humor negro característico).


Mad Men
Faz tempo que tinha interesse em conhecer essa série. O tema não me atraía muito, mas já ouvi tanto elogios a ela que foi impossível não ficar com uma leve curiosidade em assistir. Não tenho muito a comentar por enquanto, porque só vi os dois primeiros episódios, mas gostei bastante e pretendo continuar acompanhando.

Anime que terminei


Kowabon
Esse é um anime de terror com episódios curtos (cerca de 3 minutos). Fiquei curiosa para assistir porque ele é animado em rotoscopia, ou seja, tem um visual bem diferente da média dos animes. Em todos os episódios, o ponto de vista é o de uma câmera, seja a de uma ligação no Skype, uma câmera de vigilância ou um celular. Nós, espectadores, vemos as pessoas vivendo suas vidinhas comuns até que coisas estranhas começam a aparecer na tela.

A estrutura é sempre a mesma em todos os episódios, o que se torna cansativo e previsível, e no pouco tempo disponível, o anime não consegue criar um clima de terror. No entanto, dá para sentir um leve medinho ou susto em algumas ocasiões (principalmente se você estiver assistindo sozinho, à noite, ou for muito medroso), mas também dá para dar risada de tão tosco que é.

O encerramento é uma música animadinha acompanhada de cenas da gravação do episódio com os atores reais, o que eu achei muito interessante. É sempre bom ver os bastidores e comparar os atores com suas versões animadas. 

Animes que comecei

Muita gente comentou que essa temporada que começou em janeiro é muito fraca, mas eu, a do contra, me interessei bastante por alguns animes e não consegui resistir a dar uma espiada em alguns. Em geral não gosto de acompanhar animes semanalmente, à medida que são lançados, então é bem possível que eu deixe de ver Rakugo Shinjuu para voltar a assistir só quando ele já estiver quase no fim.


HaruChika: Haruta to Chika wa Seishun Suru 
Esse anime me chamou atenção porque os personagens fazem parte do clube de instrumentos de sopro. Adoro animes sobre música, mas percebi pelos primeiros episódios que não vai ter muita música aqui. Cada episódio apresenta um enigma (uma mensagem cifrada na lousa, por exemplo) que os personagens precisam resolver, porém esses mistérios não são dos mais empolgantes e são resolvidos com facilidade demais pelo personagem gênio. Seria mais interessante se houvesse pistas para os espectadores, para que nos envolvêssemos mais na investigação, mas pelo menos algumas soluções são engenhosas e alguns personagens são interessantes.


Sekkou Boys
Anime curtinho com premissa bizarra sempre atrai minha atenção. Aqui temos quatro estátuas que formam um grupo de idols e... é isso. É engraçado, e com certeza vale a pena dar uma olhada.


Shirokuma Cafe
Esse não é da temporada atual. Minha irmã está assistindo esse anime e vive me falando dele, de como o Panda é fofinho e o anime é adorável etc. Assisti os dois primeiros episódios e, sim, o anime é uma graça e os personagens são muito amorzinhos. O desenho é sobre um urso polar, que possui um café, e seus funcionários e clientes habituais, que incluem um panda e um pinguim. Bem relaxante e engraçadinho.


Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu 
Esse anime é muito bom! Ok, só vi dois episódios, mas por enquanto ele está sensacional. O anime conta a história de um ex-prisioneiro que se torna aprendiz de um mestre do rakugo (arte tradicional japonesa que é um tipo de teatro/contação de histórias). Tudo nele é incrivelmente bem feito, só não me vi completamente conquistada pelas apresentações de rakugo, que mesmo sendo muito expressivas e bem dubladas, ainda me causam um certo estranhamento.


Sushi Police
Outro anime curtinho com premissa bizarra. O desenho é sobre um grupo contra invencionices no sushi tradicional (sushi com morango etc.) que sai pelo mundo combatendo essas aberrações. O anime é em CG e tem um visual meio animação-americana-atual só que mais mal feito. Infelizmente, não vi muita graça nos primeiros episódios, mas vou continuar assistindo, porque, né, são só três minutos.

Animes que estou acompanhando faz um tempão

Sailor Moon!

Poyopoyo Kansatsu Nikki
Poyopoyo continua fofucho como sempre. Não vi muitos episódios em janeiro, mas faltam só uns dez para terminar.

Sailor Moon Crystal
Estou achando bem chato, mas finalmente terminei o primeiro arco e quem sabe agora as coisas melhorem. Não lembro direito como é essa próxima fase, e talvez isso seja bom.

Shoukoujo Sara
Começou a ficar bem cansativo e repetitivo, afinal, são 46 episódios para adaptar um romance de umas duzentas páginas. A pobre Sara só sofre!

Foi isso! Vi muito mais coisa do que costumo ver. :P